12 minutos

Cabula VI 1130-00, 7h20, Salvador, Bahia de todos os santos, encantos e axé…

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Camisa florida, calças e tênis brancos, para combinar com os fones de
ouvido. Os cabelos castanhos elegantemente amarrados num belo
rabo-de-cavalo, alguns fios esvoaçam soltos, mas no lugar de
deturparem o conjunto, acrescentam um ar de quem não se incomoda tanto
assim com superficialidades, uma certa displicência com imposições de
perfeições. A despeito do sacolejar do corredor, ela anda com leveza,
traz no rosto um certo olhar distante, de quem não está realmente ali,
está apenas de passagem. Por onde será que andam seus pensamentos? Com
quem? Talvez estejam apenas pouco mais adiante, nos estudos que os
livros e cadernos que carrega revelam estar presente em seu dia,
talvez estejam num sortudo, com quem de lugar eu sem nem pensar
trocaria.
Pobre de mim, ela nem faz ideia de quem sou. Mas me notar, com certeza
já notou. Como não? Sou o estranho cujos cabelos não são cortados nem
penteados e a barba está sempre mal feita, todo mundo meio que me
nota. Ela não seria diferente. Não que ela seja como todo mundo. Mas
há coisas que todo mundo nota, até quem não é todo mundo. Óbvio que
notar é algo completamente diferente de se importar, registra-se
momentaneamente e depois esquece-se, na maioria das vezes. Mas vou
parando por aqui, porque não escrevi para falar de mim.

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Escrevi para falar dela, dessa repentina meio que quase paixão.
O nome dela? Nem sei, mas a tenho chamado de Inspiração.